Desequilíbrios e injustiças na natureza e na sociedade em que vivemos,
continuam sendo mantidos por um conjunto de crenças que alimentamos e muitas
vezes perpetuamos inconscientemente. E perceber a extensão da nossa
cumplicidade à ordem estabelecida está diretamente ligado ao grau de obediência
aos princípios que sustentam essa situação.
O rebelde não apenas designa o revolucionário clássico que está na linha
de frente das batalhas cotidianas contra o sistema. Há também os artistas legítimos.
São pessoas que carregam dentro de si a capacidade humana, tão antiga quanto o
mundo, de se insurgir, de subverter a ordem estabelecida. Adoram mergulhar no
caos para nele criar a forma. Essa rebeldia autêntica exige uma intensidade de
emoção, uma força suprema de vitalidade. Essas pessoas são frequentemente
desprezadas por seus contemporâneos por não compreenderem a revolta autêntica que eles conseguem externalizar contra a situação de sua época.
‘’Todos os tipos de dogmatismos – científicos, econômico, moral e
político – são ameaçados pela liberdade criativa do artista. É um fato
necessário e inevitável. NÃO
PODEMOS DEIXAR DE SENTIR ANGÚSTIA ANTE O FATO DE OS ARTISTAS E TODAS AS
PESSOAS CRIATIVAS SEREM OS DESTRUIDORES EM POTENCIAL DOS NOSSOS SISTEMAS BEM
ORDENADOS. O impulso criativo é a voz e a expressão das formas do
pré-consciente e do inconsciente, o que representa uma ameaça à racionalidade e
ao controle exterior. Os dogmatistas, portanto, devem dominar o artista. (...).
Se fosse possível controlar o artista – e não acredito que seja -, isso
significaria a morte da arte.’’ Rollo May
Mas como transformar nosso esquema básico na forma de pensar, a fim de
evitar mais tantas incompreensões em relação às expressões
autênticas de rebeldia ?
‘’Desde os anos trinta e quarenta do século XX tem havido uma grande
mudança no modo como vemos o mundo e a nós mesmos. Uma mudança de consciência
que implica numa mudança cultural (mudança de paradigma). E uma das causas é a
crise espiritual/ecológica cada vez mais evidente, que se resume a uma crise de
valores. Quando nossa visão de mundo se modifica, nossos valores devem fazer o
mesmo. À medida que nos tornamos mais conscientes, preocupamo-nos, e nossa
preocupação nos leva a agir. Nossa visão foi ampliada e nossa consciência
aumentada, pelo impacto das ideias entrando em circulação geral, vindas da
ciência e da enorme popularização dos mitos, tradições e conhecimentos de uma
forma geral. Essas influências têm impulsionado nossa cultura na direção de uma
consciência do caráter interconectado da vida, um sentimento de correlação que
vem do fato de percebermos que somos partes do todo. A mudança de paradigma que
é necessária vai desde valores teóricos e do ego até os valores do coração e da
consciência, se expandindo a partir da família nuclear até incluir a
perspectiva global.
Quanto mais alienados e separados nos sentimos, mais a violência e a negatividade
crescem na nossa sociedade. Será uma mudança de paradigma quando a geração do
EU se tornar a geração do NÓS. Isso de fato será uma revolução cultural. Talvez
não precisamos de uma maioria numérica para iniciar um processo de mudanças
profundas tanto pessoal quanto social. Pequenas enzimas de consciência podem
ter grandes efeitos catalíticos em toda uma cultura.’’ James George
Ainda estamos presos ao que é basicamente uma limitação cultural?
Nossa visão restrita principalmente em relação ao que podemos fazer para
parar de vez a destruição e injustiças na Terra ainda não passou de pequenos esboços de como
salvar nossa própria pele. Com poucas exceções, ainda não desenvolvemos um
olhar total em relação à crise ambiental e humana. E não vamos nem falar nos
países/economias mais poluidoras do mundo que deram as costas (literalmente) a
todos os acordos e formas de achar soluções para a crise ecológica. A sociedade
industrial criou um verdadeiro ‘’cárcere de alto luxo’’ com todas as formas
possíveis de aprisionamento (sempre em procura de novos e mais sofisticados gadgets de ilusões)
impostas como mera ’’diversão’’, ’’entretenimento’’, ’’bem estar’’ que são
nada menos que futilidades e formas de alienação dos sentidos e da consciência. Um dos exemplos mais evidentes são os meios de comunicação de massa, como a televisão (com poucas excessões) que literalmente rouba o cérebro das pessoas. Eles têm a função principal de desviar a atenção para o que realmente é importante. A construção de uma sociedade consciente, solidária e harmoniosa.
Referências:
George, James. Olhando pela terra: O despertar para a crise
espiritual/ecológica; tradução Alexandre Soares Silva. Gaia: São Paulo , 1998
May, Rollo. A Coragem de criar; tradução Aulyde Soares Rodrigues. Nova
Fronteira: Rio de Janeiro, 1982.